quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sobre o livro da Escola da Ponte

Bom, na última postagem, eu comentei que fiquei muito entusiasmada com o livro do Rubem Alves "A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir". Prometi também que comentaria aqui sobre o livro.
Cumprindo minha promessa, segue abaixo um trecho que eu achei particularmente interessante. Ele foi tirado do prefácio escrito por Ademar Ferreira dos Santos e ao meu ver despensa meus comentários.
Boa Leitura!

Vemos para fora e para dentro. Fora, vemos apenas o que de efêmero se vai oferecendo ao horizonte dos nossos olhos. Dentro, tendemos a ver o que não existe, freqüentemente, o que desejaríamos que existisse...

Mas, sendo embora aquele que, por inventar o que não existe, antecipa e germina o futuro, o olhar para dentro seria um olhar completamente vazio de sentido se não dialogasse permanentemente com tudo o que existe, fora dele.

Nenhuma mudança se funda no nada, na negação da história ou da realidade ou das suas aparências, por mais efêmeras que se apresentem aos nossos olhos, quando eles vêem para fora. Todas as utopias se reportam ao que existe e tudo o que existe aspira o que não existe. O que não existe precisa do que existe - como se fosse a sua face mais oculta.

Daí que o olhar para dentro e o olhar para fora não sejam olhares inimigos ou disjuntivos. São olhares que se vêem também um ao outro e que eroticamente se desejam, aspirando à comunhão. Olhar apenas para fora ou para dentro seria dolorosamente insuportável. Se tivéssemos apenas olhos para o que existe -
não veríamos o que falta e cegaríamos para as utopias. Se víssemos apenas o que não existe - regressaríamos rapidamente a uma imensa caverna de sombras e cegaríamos para a conteporaneidade. Em ambos os casos, perderíamos a capacidade de ver pelos nossos próprios olhos (muito distinto de ver apenas com os olhos dos outros)...

Nenhum pensamento reclama tanto a comunhão dos olhares para fora e para dentro como o pensamento sobre a educação.

Nenhum comentário: