terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vik Muniz


Olha, eu não costumo dar "dicas culturais" tipo "segundo caderno", mas no último final de semana fui ver uma exposição no MAM do artista plástico Vik Muniz.
Ele faz umas composições que brincam com as escalas de tamanho entre a figura e os objetos que a formam.

Além disso, ele tem um grande estudo sobre materiais e brinca com as cores. Bom, eu não sou crítica de artes então é só minha opinião de leiga.
Além da exposição, tem o aterro do flamengo que é lindo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Qual é mesmo o sentido da escola?

Bem, hoje, eu comecei a planejar minhas aulas de 2009.
Na verdade, comecei a preparar minha primeira aula, pois pensei em começar discutindo com os alunos sobre a importância da escola na vida deles.

Tenho a sensação que talvez serei a única professora em minha escola a fazer isso, afinal, muitos acham que não se deve perder tempo falando sobre isso pois há muita matéria a ser dada ao longo do ano.
Em meu pouco tempo como professora, tenho percebido, que muito do que se ensina está para além da matéria. Boa parte dos meus alunos carece de ter um adulto com quem conversar sobre a vida e, além disso, o ensino de conteúdos fragmentados parece para eles cada vez mais sem sentido (e de fato o é).
Cinquenta minutos de matemática, mais 50 de português... Um português, diga-se de passagem, longe daquele que eles falam e escrevem.

Ano passado, em meio a um início de trabalho caótico, resultado da total falta de planejamento, já que fui chamada em um dia e fui "jogada" em sala de aula no outro, resolvi fazer uma discussão com os alunos que terminou em questionar a eles sobre qual era o sentido da escola e da aprendizagem para eles. Ouvi de um aluno a seguinte afirmação: "a escola não serve para nada em minha vida". Para amenizar os ânimos, eu ainda tentei fazer uma piada e perguntar para ele se a escola não serviria nem para "comer merenda" e ele voltou a afirmar: "não, não serve para nada, nem para comer merenda".
Pode ser, que esse aluno seja um caso extremo, mas o fato é que, lendo as respostas dos alunos, vi que a maioria não via mesmo muito significado na escola. Os poucos que viam, entendiam a escola como uma escada para conseguir melhores empregos.

Decidi que esse ano, eu começaria então discutindo com eles qual seria o sentido da escola. Por que eles passariam tantos anos de sua vida naquela intituição? E para isso usarei parte do texto encontrado no site do projeto "Todos Pela Educação".

Não tenho uma visão crítica sobre esse projeto e nem mesmo entendi até agora quem é o responsável por ele, ou seja, se ele é um projeto governamentel ou não, mas ele traz textos simples sobre como transformar a educação de qualidade e na parte que se dedica aos alunos ele traz as seguintes informações:

O que uma boa Educação traz para você?
Quem tem mais anos de estudo:
- tem hábitos de vida que trazem mais saúde e melhor qualidade de vida
- tem menos chance de entrar no mundo do crime e da violência
- fica menos tempo desempregadas
- consegue trocar de emprego com mais facilidade
- tem salários mais altos


Bem, esses dados são fundamentados em uma bibliografia encontrada no próprio site do projeto. Dos cinco itens, 3 estão relacionados ao mercado de trabalho, o que reforça a idéia de alguns alunos sobre a relação escola X mundo do trabalho. Já conheci algumas pessoas que são contra essa relação, pois vêem outras atribuições a escola e ao ensino. Eu não tenho uma base teórica para discutir isso, mas acho que se a escola pretende dar ferramentas para o desenvolvimento pleno do indivíduo (como cita a LDB), não podemos perder de vista essa relação.

Depois de discutir com eles a importância da escola, pretendo falar sobre a importânca do aprendizado de Ciências. Isso já é um capítulo a parte. Estou ansiosa para saber as visões deles sobre as duas coisas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Eu não queria, mas não resisto

Bom, ano novo, "vida nova".
O orkut realmente é um bom outdoor e o número de visitas ao blog tem aumentado bastante!
Voltei ao "pretinho básico" e ia escrever sobre algo que tem pouco a ver com a área de educação. Isso porque essa semana vi o filme novo do Wood Allen: Vicky Cristina Barcelona, que por sinal é muito bom, e ia comentar sobre a personagem Cristina, com qual a insatisfação me identifico, mas eis que recebi hoje um e-mail com uma carta a Secretária Municipal de Educação com a qual também me identifico (e muito).
Eu Poderia até dizer que fui eu quem escreveu, sem querer roubar a autoria, mas é porque as idéias são muito parecidas. Eu só talvez não me alongasse tanto no final, porque é bem grande, mas "coragem": Vale a pena ler até o final!
Bem, segue abaixo o texto recebido:

Carta aberta à futura Secretária de Educação do Rio de Janeiro,
Cláudia Costin

por Declev Dib-Ferreira [ 30/11/2008]
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Prezada Cláudia,

Sou funcionário do município do Rio, professor de Ciências.Tenho este
cargo
por mérito próprio, por passar em um concurso, há quase 5 anos - não
tenho
cargo por indicação política.

Li uma matéria com uma entrevista sua nO Globo, dia 08 de novembro de
2008,
página 18.

Na ocasião, algumas frases e propostas me chamaram a atenção. Tanto
pela
inocência quanto pela maldade das mesmas.

Gostaria de, mui respeitosamente, discutir alguns pontos. Vejamos?

1 - Você diz que pretende "investir na qualificação de professores,
que
poderão ganhar computadores portáteis".

Eu agradeço muito o computador, porque estou precisando, pois o meu
pifou.
Mas isso, siceramente, não creio que seja investir na qualificação do
professor. Já tive a oportunidade de escrever sobre isso por aqui,
quando da
mesma compra pelo Estado.

Tenho um amigo que ficará com 5 computadores portáteis em casa e não
sabe o
que fazer com tantos. Ele e a esposa são professores, ambos do Estado e
da
prefeitura do Rio. Já tinham um, ambos ganharam do estado e ambos
ganharão
da prefeitura.

Professores, cara futura secretária, querem salário decente. Com ele
podem
comprar seus próprios computadores. E muitos já o fizeram, pois o
preço
baixou bastante. Eu mesmo ia comprar um - como eu disse, o meu pifou -
mas
não vou. Estou esperando ganhar. Mas preferia um bom aumento de
salário para
comprar o que eu próprio escolhesse e ainda aumentar minha renda.

2 - Você faz uma pergunta: "Por que uma cidade que tem tantos mestres e
doutores de qualidade não consegue fazer um Ideb compatível com os de
países
desenvolvidos?" .

O Demétrio Weber já respondeu, mas eu insisto em te responder esta
pergunta
também.

E o principal motivo é simples: porque mesmo sendo mestres ou doutores
de
qualidade, temos que trabalhar em dois, três, quatro ou mesmo em cinco
lugares diferentes pra poder somar renda e ter um salário "compatível
com os
de países desenvolvidos" !!!

Sem contar as condições em que trabalhamos, secretária, que nem de
longe é
"compatível com os de países desenvolvidos" .

A pergunta seria ao contrário: "por que não tratamos como os países
desenvolvidos os nossos tantos mestres e doutores de qualidade?".

3 - Por fim, sua maior pérola, a frase "Quando um aluno é reprovado,
é sinal
que o professor falhou".

Fico muito muito muito apreensivo que uma pessoa que tenha este
pensamento
venha a coordenar a maior rede municipal da América Latina.

Pra facilitar o entendimento da minha lógica - que pode ser muito
profunda
pra quem nunca entrou numa sala de aula do ensino fundamental de uma
escola
encravada numa favela - farei um paralelo com o médico.

Imaginemos uma pessoa que desde que nasce não tem cuidados médicos,
não se
cuida, não faz exercícios, não se alimenta direito, bebe, fuma, é
sedentário, estressado etc.

Essa pessoa passa mal e vai ao médico. O médico receita remédios e
faz uma
série de recomendações dizendo que, se não seguir, ele pode morrer.
O doutor
marca uma nova consulta para daqui a alguns meses, para verificar o seu
progresso.

A pessoa não fez nada do que o médico receitou e ainda faltou à
consulta.

Passa mal de novo e vai ao médico. O doutor dá uma bronca, faz as
mesmas
recomendações, passa as receitas novamente, marca uma nova consulta.

O paciente, mais uma vez (ou muitas vezes), não faz o que o médico
manda e
morre.

O médico falhou?

Pela sua lógica, "quando um paciente morre, é sinal que o médico
falhou".

Oras? garanto que neste caso a senhora achará que o culpado é o
paciente, já
que o médico fez de tudo para salvá-lo?

Será que o professor também não o faz?

Mas vamos examinar o nosso caso. Por partes e desde o início.

a) quando a criança foi concebida, quem falhou foram os pais, que
souberam
gozar mas não evitar a gravidez;

b) quando a moça estava grávida falharam ela, o pai, a família e o
Estado
(assistência social, hospitais), que não deram a ela e ao feto um
pré-natal
decente - ou mesmo nenhum pré-natal;

c) quando ele nasceu e era um bebê cheio de necessidades falharam os
pais
que colocaram no mundo uma criança sem ter condições mínimas de
criá-lo e
falhou o Estado (segurança alimentar) em não dar a ele o que
necessitava
para seu pleno desenvolvimento;

d) quando ele era uma criança falhou o Estado mais uma vez por não
oferecer
a ele a pré-escola, tão importante no desenvolvimento intelectual e
psicomotor nesta idade. Não obstante este ser um direito garantido pela
Constituição Federal:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:

IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis
anos de
idade;

e) nesta mesma idade e até tornar-se o adolescente ao qual a senhora se
refere - aluno do fundamental - falham o Estado, as polícias, os
bandidos,
os filhinhosdepapai, os atores da Globo, os artistas e todos aqueles que
usam drogas, ao condená-lo a viver em um local extremamente violento,
com
disputas entre facções rivais, com invasões desumanas de policiais em
suas
casas e um cotidiano de estatísticas piores que de guerras;

f) quanto à sua moradia, falham os políticos filhosdaputa, o Estado
(habitação), o empresários, os especuladores, por fazê-lo viver em
submoradia, sem o mínimo de conforto, sem espaço para ele, com uma
densidade
demográfica japonesa dentro de sua casa;

g) falham os publicitários que mentem para que ele não seja ninguém
se não
tiver o que ele não pode ter;

h) falham as emissoras de telvisão ao entrarem diariamente em contato
com
ele com imbecilidades que não ajudam em nada seu intelecto;

i) falham os empresários de ônibus que o restringe de andar pela
cidade por
conta do preço da passagem e do péssimo serviço que oferecem;

j) falham os locais culturais que são inacessíveis a ele
(inacessíveis
financeiramente ou mesmo barreira-cultural- invisivelmente) ;

k) falha a sociedade como um todo que o quer longe;

l) falha a estrutura da escola que só o tem em um pequeno período do
dia,
deixando-o nas ruas no resto das 24h;

m) falha o Corpo de Bombeiros que carrega bandidos carnavalescos
desfilando
em carro aberto pelas cidades, ao mostrar que quem tem valor é quem tem
dinheiro, não importa de onde vem;

n) falham os jornais de grande circulação que estampam nas primeiras
páginas, praticamente todos os dias, as fotos e colunas de fofocas de
traficantes e outros bandidos - inclusive tenho um O Dia que tem a
primeira
capa toda falando do casamento de um traficante - glorificando quem é
bandido, mostrando a ele que esse é o caminho;

o) falha o Conselho Tutelar ao superproteger mesmo quando fazem merda,
nada
fazendo e não mostrando que além de direitos também tem obrigações;

p) falham as editoras de revistas que só colocam a preço de quase nada
as
revistas mais imbecis que existem, com fofocas e coisas do gênero;

Enfim, apesar de a Constituição prever que "A educação, direito de
todos e
dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração
da sociedade" (Art. 205), a senhora vem me dizer que "quando um aluno é
reprovado, é sinal que o médico professor falhou"?

Francamente.

É justamente o professor que está lá dentro, cara futura secretária
de
educação, com o aluno, diariamente, tentando fazer com que ele estude,
com
que ele dê valor ao estudo, com que ele aprenda!

Veja pelos exemplos abecedários que dei em cima, que o professor é
praticamente o único que quer que ele seja alguém pela educação; o
professor
que dá valor ao estudo; o professor que luta contra toda a merda que a
sociedade faz com ele desde antes dele nascer, para que ele se salve.

Veja, prezada futura, o que diz a Constituição Federal:

CAPÍTULO II - DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o
lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Quais destes direitos o Estado - do qual você tem íntima relação, a
ver
pelos cargos que já ocupou - oferece ao aluno - e com qualidade?

Quase nenhum, né?

E você vem me dizer que é o professor que falha, como se só o que
fazemos em
sala de aula é o que conta, é o que faz um aluno ter sucesso ou
não???

Francamente.

Assinado:

Um professor mestre doutorando que tem diversos empregos e mesmo assim
luta
para que seus alunos possam superar toda a merda que a sociedade faz com
eles para que possam ser alguém na vida e que, justamente por se sentir
incapaz de fazer isso com o que o Estado lhe oferece, não acredita em
reprovação.