quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Otimismo voltando

Bom, dizem por ai que "depois da tempestade, vem sempre a bonança".

Essa semana tive "contato" com a Escola da Ponte. Você já ouviu falar nela?
Bom, essa escola é uma escola pública localizada em Portugal.
Eu já tinha ouvido falar vagamente durante a minha graduação. Os professores que falaram sobre essa escola comigo tinham se referido à ela como uma espécie de escola experimental da qual o escritor Rubem Alves adorava falar. Eles falaram de um jeito meio cético, como se essa escola fosse como mais uma dessas teorias educacionais utópicas que a gente lê, pode até concordar, mas que é impossível praticar. Sabe como é?

Eu não procurei saber muito sobre essa escola, mas durante o meu período como professora do estado, o comentário de um aluno em meio a uma aula caótica me chamou atenção: "ei, professora, você é daquela parada da ponte, né?!".
Eu falei com ele: ponte? Que história é essa de ponte?
Ele disse: "é, ponte! É que você fala que nem a professora de geografia, que diz que a gente tem que se respeitar e que não vai gritar com a gente como as outras professoras fazem e que nós não precisamos gritar uns com os outros, que nem eles fazem nessa tal de ponte."
Nesse momento eu comecei a rir e disse "ah sim! Escola da Ponte?!"
Ele confirmou e complementou: "mas não vou te enganar não fessora, no segundo dia essa professora já tava gritando com a gente que nem as outras".
Nesse ponto eu continuei rindo, mas já me imaginava gritando que nem essa ela e ai, apesar de rir, senti uma angústia de quem já tinha passado por isso antes.

Bom, o fim dessa história você já sabe, eu pedi exoneração do estado.

No auge das minhas crises existenciais docentes, meu namorado, que também é professor, disse que eu deveria escrever para o professor "Zé Pacheco" como ele chama. Esse professor é dessa escola lá de portugal. Meu namorado tinha assistido a uma palestra com ele e de vez em quando escrevia contando suas angústias e o professor respondia enviando textos.
Eu não escrevi porque pensei: "imagina se esse cara vai me responder..."
E se respondesse, o que ia adiantar um texto? Mais um texto que é muito bonito na teoria, mas que pouco ajuda na prática.

Bom, mas voltando a tal da Escola da Ponte, meu contato com ela foi retomado ontem. Eu estava na Secretaria de Educação de Friburgo e uma funcionária perguntou se alguém já tinha ouvido falar nela. Eu concordei com a cabeça e ri. Ela então disse que haveria um curso sobre essa escola, que é muito diferente e perguntou se alguém se interessava. Coloquei meu nome na lista. Queria conhecer melhor essa escola, saber o que ela tinha de tão diferente. Ela me entregou então um pequeno texto que explicava o curso. Nele dizia que a Escola da Ponte ficou famosa no Brasil devido a um livro do Rubem Alves chamado "A Escola que sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir".

Mais ou menos 30 minutos depois de me inscrever, eis que vejo esse tal livro lá nas estantes da SEC. Tratei logo de pegá-lo emprestado. Quando comecei a ler, senti uma espécie de carinho no coração. Sabe como é carinho no coração? É aquela sensação agradável no peito que temos quando ficamos genuinamente felizes.
Lembrei que sempre que me sentia angustiada como professora, recorri a um texto do Rubem Alves que sempre tem uma visão tão carinhosa em relação à educação e aos alunos. Era exatamente essa visão que eu estava precisando ter de volta, pois é nela que eu acredito.

O livro é surpreendente. Eu já terminei de ler e pretendo comentar aqui mais vezes sobre ele. Você já leu um livro que te fez chorar? Pois eu chorei algumas vezes lendo este. Um misto de alívio e esperança.

Fiquei com muita vontade de escrever ao Rubem Alves para contar tudo isso a ele. Achei que ele poderia me dar uma palavra que me acalentasse, já que faz isso através de seus livros. Ou apenas que ele ficaria feliz em saber que uma jovem professora não desistiu de seus ideais de trabalhar por uma educação transformadora por mais que isso pareça difícil e utópico e que ele foi grande colaborador.
Mas fiquei com vergonha de escrever, como fiquei com vergonha de escrever para o professor José Pacheco.
Vou ver se tomo coragem.

Mas por hoje é só, afinal já escrevi muito.

domingo, 21 de setembro de 2008

Let´s burn it out

Hoje, em solidariedade ao meu "colapso emocional" que culminou no meu pedido de demissão do estado, recebi um texto sobre a síndrome de Burnout.
Você já ouviu falar nisso?
Bem, se é professor, provavelmente, se não ouviu, ouvirá falar.
Burnout significa algo como combustão completa.

Esta síndrome, se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional).

O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.

Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda (médicos, enfermeiros, professores).


Eu me sentia exatamente assim! A diferença é que em geral as pessoas levam muito tempo para desenvolverem esses sintomas e eu levei só um mês! rs.

Bom, essa semana eu comecei em um colégio onde eu não tô ganhando muito, mas estou sendo respeitada. (Quanto valor isso passou a ter na minha vida profissional!)

Se você quiser saber mais sobre essa síndrome, dê uma procurada. O texto acima, em negrito, foi tirado do wikipédia.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O que você faria?


Lembra daquela música do Paulinho Moska que dizia: "meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria."

Pois bem, após alguns dias sem ler ou assistir nenhum jornal, eis que eu ligo a tv e ouço uma bombástica reportagem: "Cientistas iniciam um experimento que podem levar ao fim do mundo". O repórter dizia isso calmamente, enquanto eu atônita assistia à reportagem. Seria mesmo possível que o mundo acabasse ou seria apenas mais uma reportagem sensacionalista?

O fato é que a reportagem falava sobre um super acelerador de partículas, montado sob o subsolo da França e Suíça, que tem como objetivo recriar o big-bang em uma pequena escala. Esse experimento custou mais de 8 bilhões de euros, e envolve uns 70 pesquisadores de diferentes países (incluindo o Brasil). Só essa informação, já me deixou mais tranquila, afinal esse monte de cientistas deve saber o que está fazendo. Mas, logo depois, me lembrei que durante a segunda guerra, vários cientistas de renome assinaram uma carta favorável à construção da bomba atômica, o que na minha opinião foi uma das piores idéias da humanidade. É sabido que a responsabilidade do lançamento da bomba não foi desses cientistas, mas certamente, cientistas são humanos, e, logo, passíveis de fazerem coisas estúpidas.

Fiz então uma pesquisa, para tentar entender porque esse acelerador de partículas poderia ser um ameaça à existência do mundo, e descobri que o principal problema seria a possível formação de buracos negros durante o experimento.

Ora, fiquei na mesma, afinal, o que raios é um buraco negro? A imagem que me vem à cabeça é a de um buraco sugando várias coisas, exatamente como é mostrado nos filmes de ficção científica. Decidi então investigar melhor.

Já disse aqui, em um outro post, o que são supernovas. Aprendi o que elas são devido a sua grande beleza. Se aprendi o que era uma supernova, me senti capaz de tentar entender o que de fato era um buraco negro.

Foi difícil! Li em alguns sites e a explicação mais razoável é a de que buracos negros são objetos tão compactos (possuem muita massa em um volume muito pequeno)que faz com que a sua gravidade seja tão intensa que nada ao seu redor escapa (inclusive a luz).



Nessa procura, eu achei um site muito interessante, com muitas explicações. Ele simula inclusive viagens aos buracos negros mais próximos (http://hubblesite.org/explore_astronomy/black_holes/).

Mas, voltando ao problema inicial, seria possível que esse experimento formasse um buraco negro? Tanto o site acima, quanto uma entrevista postada no site G1 com o físico Stephen Hawking, explicam que um buraco negro muito pequeno sumiria em poucos segundos por emissão de energia.

Bom, agora tenho bases científicas para descansar tranquila, assim como se propunha o iluminismo: viver em um mundo iluminado pela razão (sendo assim um pouco irônica).
Pena que submergimos em um mundo calcado no medo líquido. Vivemos com medos, cujos os objetos que os inspiram não são palpáveis, e com os quais vamos vivendo, banalizando tudo para que possamos seguir a diante.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Aqui jaz um ideal

Bom, meus desabafos docentes aqui são freqüentes, mas hoje farei um grande desabafo!

Hoje, após um mês de trabalho, pedi exoneração do Estado. Estou sentindo um misto de felicidade, alívio e decepção.

Nesse um mês, sofri muito com o desrespeito e agressividade dos alunos. Por mais que a gente tente compreender o que os leva a ter esse tipo de comportamento, lidar com essa realidade é muito difícil e desgastante.

Eu ia dar aulas bem desanimada e nesse período, nutri sentimentos que eu confesso não ter experimentado antes (pelo menos não tão intensamente) como ódio, raiva, desprezo, aversão, auto-piedade, incapacidade entre outros.

Comecei a repensar minha vocação e desejo de ser professora e cheguei a cogitar abandonar essa profissão, mas nestes momentos, tive sempre em mente os outros trabalhos que eu já fiz e o quanto eu acreditava neles, o que em motivou a seguir em frente.

Ontem, sai de uma atividade nervosa, tremendo e atordoada em face as atitudes dos alunos. O que é isso? Como chegamos aqui? Sai na rua confusa, perdida, sem saber o que fazer e por fim percebi que esse era o meu limite e que não era para isso que eu estava ali. Pedi para sair.

Penso nos professores que continuam ali e não consigo entender o que os mantém lá, o que os motiva a acordar e ir trabalhar naquele lugar. Seriam heróis? Seriam covardes? Sinceramente, não consigo compreender.

A imagem que me veio a mente hoje foi da minha colação de grau na licenciatura. Lembro de ter jurado trabalhar em prol do ensino público de qualidade e lembro do meu orgulho e felicidade ao jurar isso. Comparo este sentimento altivo com a minha decepção e frustração. Por isso digo que aqui jaz um ideal. O ideal de que com ética, criatividade e dedicação podemos transformar o mundo. Não podemos não, o mundo às vezes devora e avassala a gente e destrói nossos ideais românticos. Acho que isso faz parte da vida adulta e é o que faz os adultos terem tantas saudades da juventude.

Saio dessa experiência mais individualista, menos esperançosa em relação aos rumos de nossa sociedade, mas estranhamente me sinto feliz, confiante e principalmente livre.